segunda-feira, 29 de abril de 2013

As Janelas...


Acuarela "Janelas de Lisboa" de autoria de Inês Spurguitti.



AS JANELAS...

Sempre fui
de abrir janelas.
As minhas janelas são grandes
e muito transparentes .
Já abri tantas.... mais do
que as que fechei.
São janelas viradas para o mundo
para o sonho
também para a realidade.
As minhas janelas abrem-se naturalmente,
não as empurro ....
simplesmente
abrem-se,
vejo e sinto
que o que se me depara é diferente
em cada uma.
Sonhos, realidades dispersas,
crueldades
e amor.....
Quando me debruço nelas
para ver o que se me depara
guardo sempre algo ,
e afasto o que nada
tem a ver comigo....
sempre acontece.
Contudo há
um cruel desafio
nunca conseguir chegar
onde mais desejo
que é a minha procura de sempre
a linha do horizonte ou seja a utopia.
Consola-me que tenha sempre
janelas para abrir.


YOLANDA BOTELHO




sexta-feira, 29 de março de 2013

Idílio





IDÍLIO

Quando nós vamos ambos, de mãos dadas,
Colher nos vales lírios e boninas,
E galgamos dum fôlego as colinas
Dos rocios da noite inda orvalhadas;

Ou, vendo o mar das ermas cumeadas
Contemplamos as nuvens vespertinas,
Que parecem fantásticas ruínas
Ao longo, no horizonte, amontoadas:

Quantas vezes, de súbito, emudeces!
Não sei que luz no teu olhar flutua;
Sinto tremer-te a mão e empalideces

O vento e o mar murmuram orações,
E a poesia das coisas se insinua
Lenta e amorosa em nossos corações.

Antero de Quental


segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

Esta manhã encontrei o teu nome






Esta manhã encontrei o teu nome nos meus sonhos
e o teu perfume a transpirar na minha pele. E o corpo
doeu-me onde antes os teus dedos foram aves
de verão e a tua boca deixou um rasto de canções.

No abrigo da noite, soubeste ser o vento na minha
camisola; e eu despi-a para ti, a dar-te um coração
que era o resto da vida - como um peixe respira
na rede mais exausta. Nem mesmo à despedida

foram os gestos contundentes: tudo o que vem de ti
é um poema. Contudo, ao acordar, a solidão sulcara
um vale nos cobertores e o meu corpo era de novo
um trilho abandonado na paisagem. Sentei-me na cama

e repeti devagar o teu nome, o nome dos meus sonhos,
mas as sílabas caíam no fim das palavras, a dor esgota
as forças, são frios os batentes nas portas da manhã.

Maria do Rosário Pedreira


sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

As Rosas




As Rosas

Quando à noite desfolho e trinco as rosas
É como se prendesse entre os meus dentes
Todo o luar das noites transparentes,
Todo o fulgor das tardes luminosas,
O vento bailador das Primaveras,
A doçura amarga dos poentes,
E a exaltação de todas as esperas.

Sophia de Mello Breyner Andresen





quarta-feira, 14 de novembro de 2012

Adormecida







Adormecida


Uma noite eu me lembro... Ela dormia
Numa rede encostada molemente...
Quase aberto o roupão... solto o cabelo
E o pé descalço no tapete rente.

'Stava aberta a janela. Um cheiro agreste
Exalavam as silvas da campina...
E ao longe, um pedaço do horizonte,
Via-se a noite plácida e divina.


De um jasmineiro os galhos encurvados,
Indiscretos entravam pela sala,
E de leve oscilando ao tom das auras,
Iam na face trêmolos - beijá-la.

Era um quadro celeste!... A cada afago
Mesmo em sonhos a moça estremecia...
Quando ela serenava... a flor beijava-a...
Quando ia beijar-lhe... a flor fugia...

Dir-se-ia que naquele doce instante
Brincavam duas cândidas crianças...
A brisa, que agitava as folhas verdes,
Fazia-lhe ondear as negras tranças!

E o ramo ora chegava ora afastava-se...
Mas quando a via despertada a meio,
P'ra não zanga-la... sacudia alegre
Uma chuva de pétalas no seio.

Eu fitando esta cena, repetia
Naquela noite lânguida e sentida:
" Ó flor! - tu és a virgem das campinas!
" Virgem! - tu és a flor da minha vida?...

Castro Alves
(Brasil 1847 - 1871 )


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