quarta-feira, 14 de novembro de 2012

Adormecida







Adormecida


Uma noite eu me lembro... Ela dormia
Numa rede encostada molemente...
Quase aberto o roupão... solto o cabelo
E o pé descalço no tapete rente.

'Stava aberta a janela. Um cheiro agreste
Exalavam as silvas da campina...
E ao longe, um pedaço do horizonte,
Via-se a noite plácida e divina.


De um jasmineiro os galhos encurvados,
Indiscretos entravam pela sala,
E de leve oscilando ao tom das auras,
Iam na face trêmolos - beijá-la.

Era um quadro celeste!... A cada afago
Mesmo em sonhos a moça estremecia...
Quando ela serenava... a flor beijava-a...
Quando ia beijar-lhe... a flor fugia...

Dir-se-ia que naquele doce instante
Brincavam duas cândidas crianças...
A brisa, que agitava as folhas verdes,
Fazia-lhe ondear as negras tranças!

E o ramo ora chegava ora afastava-se...
Mas quando a via despertada a meio,
P'ra não zanga-la... sacudia alegre
Uma chuva de pétalas no seio.

Eu fitando esta cena, repetia
Naquela noite lânguida e sentida:
" Ó flor! - tu és a virgem das campinas!
" Virgem! - tu és a flor da minha vida?...

Castro Alves
(Brasil 1847 - 1871 )


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