sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Ausência





Num deserto sem água
Numa noite sem lua
Num país sem nome
Ou numa terra nua

Por maior que seja o desespero
Nenhuma ausência é mais funda do que a tua.

Sophia de Mello Breyner Andresen


sexta-feira, 22 de outubro de 2010

No teu amor...






No teu amor por mim há uma rua que começa
Nem árvores nem casas existiam
Antes que tu tivesses palavras
E todo eu fosse um coração para elas
Invento-te e o céu azula-se sobre esta
triste condição de ter de receber
dos choupos onde cantam
os impossíveis pássaros
a nova primavera
Tocam sinos e levantam voo
Todos os cuidados
Oh meu amor nem minha mãe
Tinha assim um regaço.

Ruy Belo



segunda-feira, 18 de outubro de 2010

sábado, 9 de outubro de 2010

No sofá.



Sentada no meu sofá
escrevo-te esta carta perfumada
para que ao lê-la te lembres
da mulher que continua a amar-te
e te dês conta
que ao "acordares"
quem sabe seja tarde
e já não possas sentir o meu perfume
que te enlouqueceu
tantas vezes
quando te enroscavas no meu corpo
e dizias que me amavas
que só eu existia para ti

FLOR

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Trajecto




Na vertigem do oceano
vagueio
sou ave que com o seu voo
se embriaga
Atravesso o reverso do céu
e num instante
eleva-se o meu coração sem peso
Como a desamparada pluma
subo ao reino da inconstância
para alojar a palavra inquieta
Na distância que percorro
eu mudo de ser
permuto de existência
surpreendo os homens
na sua secreta obscuridade
transito por quartos
de cortinados desbotados
e nas calcinadas mãos
que esculpiram o mundo
estremeço como quem desabotoa
a primeira nudez de uma mulher.



Mia Couto
(Antonio Emilio Leite Couto)

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