sábado, 30 de abril de 2011

Entre Março e Abril






Que cheiro doce e fresco,
por entre a chuva
me traz o sol,
me traz o rosto,
entre março e abril
o rosto que foi meu,
o único
que foi afago e festa e primavera?

O cheiro puro de só da terra!
não das mimosas,
que já tinham florido
no meio dos pinheiros;
não dos lilases,
pois era cedo ainda
para mostrarem
o coração às rosas;
mas das tímidas, doces flores
de cor difícil,
entre limão e vinho,
entre marfim e mel
abertas no canteiro junto ao tanque

Frésias,
ó pura memória
de ter cantado –
pálidas, fragrantes,
entre chuva e sol
e chuva
- que mãos vos colhem,
agora que estão mortas
as mãos que foram minhas?

Eugénio de Andrade


2 comentários:

  1. Um poema do Eugénio. Maravilhoso como todos.
    Beijos.

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  2. Um poema encantador e uma fotografia com cheirinho a Primavera, lindo.
    Bom domingo
    Beijinhos
    Maria

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