sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Poema





Deixo que venha
se aproxime ao de leve
pé ante pé ao meu ouvido

Enquanto no peito o coração
estremece
e se apressa no sangue enfebrecido

Primeiro a floresta e em seguida
o bosque
mais bruma do que neve no tecido

Do poema que cresce e o papel absorve
verso a verso primeiro
em cada desabrigo

Toca então a torpeza e agacha-se
sagaz
um lobo faminto e recolhido

Ele trepa de manso e logo tão voraz
que da luz é a noz
e depois o ruído

Toma ágil o caminho
e em seguida o atalho
corre em alcateia ou fugindo sozinho

Na calada da noite desloca-se e traz
consigo o luar
com vestido de arminho

Sinto-o quando chega no arrepio
da pele, na vertigem selada
do pulso recolhido

À medida que escrevo
e o entorno no sonho
o dispo sem pressa e o deito comigo

Maria Teresa Horta

sábado, 29 de janeiro de 2011

Encho os olhos de mar






Encho os olhos de mar
e abro, de par em par,
os meus sentidos,
para deixar passar
todos os barcos perdidos.



sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

Um canto à vida...







Plenitude


O relógio cessará o seu caminho
embora todas as cordas se partam.
Não deixa de ser primavera
só porque chegou o inverno,
E o sol segue brilhando
ainda que a lua alargue o seu mirar.

Não se termina de imaginar ao abrir os olhos,
aí começa outra vez outra vida.
Ao descobrir a manhã – tudo volta a nascer -
Inclusive a noite trina a escuridão.

Não envelheceremos os que nascemos,
só cai a folha nunca a raiz
y menos a seiva que é invisível, para as almas anciãs.

Não apodrece a doçura,
na sua fronte não leva a marca de validade;
nem a senda morre por falta de caminhantes.
Segue o sussurro dos sinos
nos ouvidos que recordam a sua voz e não declinam,
por não encontrar peregrinos do silencio.



Este momento é tão breve…
                                  que não tem fim.

                                                                                              Anouna


(Tradução de Flor)


quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

Receita de Ano Novo







Para você ganhar belíssimo Ano Novo
cor de arco-íris, ou da cor da sua paz,
Ano Novo sem comparação como todo o tempo já vivido
(mal vivido ou talvez sem sentido)
para você ganhar um ano
não apenas pintado de novo, remendado às carreiras,
mas novo nas sementinhas do vir-a-ser,
novo até no coração das coisas menos percebidas
(a começar pelo seu interior)
novo espontâneo, que de tão perfeito nem se nota,
mas com ele se come, se passeia,
se ama, se compreende, se trabalha,
você não precisa beber champanha ou qualquer outra birita,
não precisa expedir nem receber mensagens
(planta recebe mensagens?
passa telegramas?).
Não precisa fazer lista de boas intenções
para arquivá-las na gaveta.
Não precisa chorar de arrependido
pelas besteiras consumadas
nem parvamente acreditar
que por decreto da esperança
a partir de janeiro as coisas mudem
e seja tudo claridade, recompensa,
justiça entre os homens e as nações,
liberdade com cheiro e gosto de pão matinal,
direitos respeitados, começando
pelo direito augusto de viver.
Para ganhar um ano-novo
que mereça este nome,
você, meu caro, tem de merecê-lo,
tem de fazê-lo de novo, eu sei que não é fácil,
mas tente, experimente, consciente.
É dentro de você que o Ano Novo
cochila e espera desde sempre.


Carlos Drummond

sábado, 25 de dezembro de 2010

O Sonho de Maria


Eu tive um sonho, José, que não pude decifrar…
Celebravam o Natal, sem nosso filho chamar.
Uma grande e linda festa, as pessoas preparavam,
Mas do nosso menininho, elas nem mesmo lembravam.

Decoraram e iluminaram, a casa, com grande pompa!
Gastaram muito dinheiro, fazendo uma enorme compra!
Engraçado, mas não vi, presentes pro nosso filho,
Entre todos os pacotes, enfeitados com fitilho…

Muitas bolas coloridas, na árvore penduradas,
- Coitadinho do pinheiro, teve a raíz arrancada! -
Um anjo, bem lá no alto – esse sim, gostei de ver,
Lembrei da anunciação, antes de Jesus nascer!

Ao trocarem os presentes – melhor mesmo que eu não visse
Nem falaram em Jesus, como se não existisse!
Celebrar aniversário de alguém que não está presente…
Você entende, José? Não é pra ficar doente?

Acho mesmo que meu filho, ficaria tão confuso…
Se aparecesse na festa, o achariam “um intruso”!
Não ser desejado, é triste, depois do grande calvário…
Dando a vida pelo irmão, num triste e cruél cenário!

Ainda bem que foi sonho… pois muito triste seria,
Ele voltar para a Terra, sentir que ninguém queria!
Mais um Natal, este, agora, em que eu iria dar à luz,
Sem saber se o povo entende, a grandeza de Jesus!

*** MÍRIAN WARTTUSCH ***

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