quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

Receita de Ano Novo







Para você ganhar belíssimo Ano Novo
cor de arco-íris, ou da cor da sua paz,
Ano Novo sem comparação como todo o tempo já vivido
(mal vivido ou talvez sem sentido)
para você ganhar um ano
não apenas pintado de novo, remendado às carreiras,
mas novo nas sementinhas do vir-a-ser,
novo até no coração das coisas menos percebidas
(a começar pelo seu interior)
novo espontâneo, que de tão perfeito nem se nota,
mas com ele se come, se passeia,
se ama, se compreende, se trabalha,
você não precisa beber champanha ou qualquer outra birita,
não precisa expedir nem receber mensagens
(planta recebe mensagens?
passa telegramas?).
Não precisa fazer lista de boas intenções
para arquivá-las na gaveta.
Não precisa chorar de arrependido
pelas besteiras consumadas
nem parvamente acreditar
que por decreto da esperança
a partir de janeiro as coisas mudem
e seja tudo claridade, recompensa,
justiça entre os homens e as nações,
liberdade com cheiro e gosto de pão matinal,
direitos respeitados, começando
pelo direito augusto de viver.
Para ganhar um ano-novo
que mereça este nome,
você, meu caro, tem de merecê-lo,
tem de fazê-lo de novo, eu sei que não é fácil,
mas tente, experimente, consciente.
É dentro de você que o Ano Novo
cochila e espera desde sempre.


Carlos Drummond

sábado, 25 de dezembro de 2010

O Sonho de Maria


Eu tive um sonho, José, que não pude decifrar…
Celebravam o Natal, sem nosso filho chamar.
Uma grande e linda festa, as pessoas preparavam,
Mas do nosso menininho, elas nem mesmo lembravam.

Decoraram e iluminaram, a casa, com grande pompa!
Gastaram muito dinheiro, fazendo uma enorme compra!
Engraçado, mas não vi, presentes pro nosso filho,
Entre todos os pacotes, enfeitados com fitilho…

Muitas bolas coloridas, na árvore penduradas,
- Coitadinho do pinheiro, teve a raíz arrancada! -
Um anjo, bem lá no alto – esse sim, gostei de ver,
Lembrei da anunciação, antes de Jesus nascer!

Ao trocarem os presentes – melhor mesmo que eu não visse
Nem falaram em Jesus, como se não existisse!
Celebrar aniversário de alguém que não está presente…
Você entende, José? Não é pra ficar doente?

Acho mesmo que meu filho, ficaria tão confuso…
Se aparecesse na festa, o achariam “um intruso”!
Não ser desejado, é triste, depois do grande calvário…
Dando a vida pelo irmão, num triste e cruél cenário!

Ainda bem que foi sonho… pois muito triste seria,
Ele voltar para a Terra, sentir que ninguém queria!
Mais um Natal, este, agora, em que eu iria dar à luz,
Sem saber se o povo entende, a grandeza de Jesus!

*** MÍRIAN WARTTUSCH ***

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Cortina






Peço-te que feches
a cortina
e à sua sombra já estremeço nua
Vens-me cobrir o frio
com o teu calor
e à nossa roda já tudo flutua

Maria Teresa Horta








segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Respiro o teu corpo...

Respiro o teu corpo:
sabe a lua-de-água
ao amanhecer,
sabe a cal molhada,
sabe a luz mordida,
sabe a brisa nua,
ao sangue dos rios,
sabe a rosa louca,
ao cair da noite
sabe a pedra amarga,
sabe à minha boca.

            Eugénio de Andrade

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Em Todas as Ruas te Encontro...






Em todas as ruas te encontro
em todas as ruas te perco
conheço tão bem o teu corpo
sonhei tanto a tua figura
que é de olhos fechados que eu ando
a limitar a tua altura
e bebo a água e sorvo o ar
que te atravessou a cintura
tanto    tão perto    tão real
que o meu corpo se transfigura
e toca o seu próprio elemento
num corpo que já não é seu
num rio que desapareceu
onde um braço teu me procura

Em todas as ruas te encontro
em todas as ruas te perco

Mário Cesariny


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